quarta-feira, 11 de agosto de 2010


 Era noite. Não era fria, mas também não era quente. Uma brisa um tanto gélida soprava em seus rostos. Abaixo, uma rua comprida e deserta, com flores em ambos os lados. Flores vermelhas. Acima, um céu estrelado e uma lua grande e dourada. Era uma boa noite. Havia um cheiro lilás nela.
Sobre a rua e sob o céu, estavam eles. Andavam despreocupados, andavam pelo simples  prazer de andar lado a lado. Pareciam felizes. Muito felizes, aliás. Um casal de borboletas aparecera, e uma delas trazia uma rosa em suas patinhas. Eles também voavam despreocupados. Mas isso não importa.
Eles andavam lado a lado, felizes e conversando sobre como seria morrer.. "Deve ser como fechar os olhos por um longo período”, dissera o senhor borboleta. Mas eles não ouviram o que a borboleta falou e continuaram seguindo. Segue, assim, então, o diálogo das borboletas:
- Acho que morrer deve ser como fechar os olhos por um longo tempo.
- Tenho curiosidade para descobrir. Um dos meus maiores desejos é descobrir como é...
- E por que você não descobre?
- Porque eu tenho medo.
- E é o seu maior desejo? É isso o que você mais quer?
- Sim. O meu maior desejo é descobrir como é..
- Certo.
Nisso o senhor borboleta arrancou suas próprias asas e cortou um pedaço do final de seu próprio corpo.
- Pegue. Esta rosa vermelha é sua.
- Obrigada pela rosa, mas por que você arrancou suas asas e se cortou? Não vê que irá morrer?! (Disse a senhora borboleta entre lágrimas.)
- Fiz isso porque seu maior desejo era o de saber como seria a morte. E agora vou descrevê-la para você. (Disse com imensa dificuldade.)
- Pare! Você morrerá mais rápido assim! Jovens humanos andantes, nos ajudem! Ele está morrendo!
Eles não entenderam. Há tempos não praticavam a língua das borboletas, sabiam apenas voar. O senhor borboleta, agonizando, disse:
- Imagine... Que você está respirando, que você está vivo e que as árvores estão verdes. Imagine que você está feliz, que você tem a noite inteira e de repente, não mais que de repente, tudo some. Melhor! (disse quase não podendo dizer mais nada) Imagine-se em uma corda bamba. Esta corda é sua vida. Você tem onde pisar. Mas de repente, alguém lhe tira a corda e com isso você cai.
- Pare!
- Mas você queria saber como era...
- Não! Eu nunca quis! (Disse a senhora borboleta entre lágrimas.)
- Queria sim... Não importa o que você diga, eu sei que você queria. E agora seu desejo foi satisfeito. Fiz por e para você. Eu t...
Nisso os olhinhos do senhor borboleta começaram a se fechar. Havia , perto deles, uma árvore de rádios e todos os rádios começaram a tocar Elephant gun do Beirut.
A senhora borboleta tentou acordar seu companheiro, juntando as asas e o pedaço de seu corpo. Mas foi em vão. Ele havia partido
Havia partido por ela.
Inconformada, ela já não se importava se o seu desejo havia sido satisfeito. De que adiantaria isso se as outras borboletas não seriam capazes de compreendê-la? Percebendo isso, ela deitou-se no chão e a moça pisou em cima da senhora borboleta.
Ela partiu.
E eles continuavam a andar lado a lado, sob os efeitos de uma linda noite estrelada e pelo  simples prazer de andar lado a lado.