sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Árvores mortas



     A estrada estava coberta por folhas secas. Ao redor, árvores mortas. Acima, um céu escuro, quase violeta. O vento estava parado e ela apenas caminhava pela pequena estrada; talvez estivesse procurando algo, ou simplesmente quisesse aquietar sua agitada alma.
     Depois de muito caminhar, ela se sentou à beira de um lago para observar o reflexo da lua. Corvos pousavam ao seu lado, diziam coisas sem nexo... Mas seus pensamentos não estavam ali. Após algum tempo, como num despertar de um sonho, ela se levantou e continuou a caminhar por entre as árvores mortas.
     Ela notara que algo se mexia por de trás das árvores mortas, mas vira apenas uma sombra. Um corvo, que estava observando-a há um certo tempo, pousou em seu ombro e tentou alertá-la. Disse para tomar cuidado com aquilo que movia-se na escuridão.
     - Por que eu deveria tomar cuidado com a criatura que está na escuridão, por entre as árvores mortas?
     Em tom sério, o corvo respondeu:
     - Porque a criatura quer lhe matar.
     - Mas eu já estou morta. Meu corpo é imortal, mas veja meus olhos.
     - Estou olhando. Eles estão esquisitos, parecem com os mesmos olhos de alguns anos atrás.
     - Alguns anos atrás? Há quanto tempo você me observa?
     - Desde sempre. Você vinha sempre nesta floresta de árvores mortas, mas agora retornou. Retornou com os mesmos olhos de sempre.
     Algo fez barulho por entre os arbustos, secos, e os dois olharam para o lado. Notaram que uma sombra havia surgido, e ela portava um arco e algumas flechas. As flechas possuiam pontas de fogo, que brilhavam muito através da extrema escuridão.
     - Cuidado!, dissera o corvo.
     - Cuidado com o que? Com as fechas? Eu disse que estou morta.
     Nisso, a sombra atirou uma fecha no peito dela. Ela caíra no chão, com um sorriso esquisito nos lábios e olhos fixos na sombra.
     A sombra sumira.
     Com um ar muito triste, o corvo disse:
     - Eu falei que voc~e iria morrer!
     - Eu já estou morta. Qual a diferença de morrer mais uma vez?
     - Eu não gosto de ver você morrer! Eu nunca sei se esta será a morte definitiva!
     - Não se preocupe. Morrer estando morta não é tão ruim, apenas dói um pouco devido à flecha em meu peito.
     Após dizer isso, seus olhos começaram a se fechar e sua respiração começou a ficar cada vez mais rara.
     - Não sei o que dizer! Toda vez que você caminha por esta floresta de árvores mortas, você morre.
     - Não se preocupe, corvo. Saiba apenas que...
     Neste momento seus olhos se fecharam.
     - Saiba o que?!!!, dissera o corvo.   
     O corpo dela foi sumindo aos poucos. O corvo nada pôde fazer, a não ser olhar. Olhar com o mesmo olhar dela. Ele não conseguia arrancar de sua mente a seguinte indagação: "Como ela pôde morrer já estando morta?". Mas ao terminar este pensamento, ele saiu voando.  
     Saiu voando para pousar na árvore onde sempre esteve.