A estrada estava coberta por folhas secas. Ao redor, árvores mortas. Acima, um céu escuro, quase violeta. O vento estava parado e ela apenas caminhava pela pequena estrada; talvez estivesse procurando algo, ou simplesmente quisesse aquietar sua agitada alma.
Depois de muito caminhar, ela se sentou à beira de um lago para observar o reflexo da lua. Corvos pousavam ao seu lado, diziam coisas sem nexo... Mas seus pensamentos não estavam ali. Após algum tempo, como num despertar de um sonho, ela se levantou e continuou a caminhar por entre as árvores mortas.
Ela notara que algo se mexia por de trás das árvores mortas, mas vira apenas uma sombra. Um corvo, que estava observando-a há um certo tempo, pousou em seu ombro e tentou alertá-la. Disse para tomar cuidado com aquilo que movia-se na escuridão.
- Por que eu deveria tomar cuidado com a criatura que está na escuridão, por entre as árvores mortas?
Em tom sério, o corvo respondeu:
- Porque a criatura quer lhe matar.
- Mas eu já estou morta. Meu corpo é imortal, mas veja meus olhos.
- Estou olhando. Eles estão esquisitos, parecem com os mesmos olhos de alguns anos atrás.
- Alguns anos atrás? Há quanto tempo você me observa?
- Desde sempre. Você vinha sempre nesta floresta de árvores mortas, mas agora retornou. Retornou com os mesmos olhos de sempre.
Algo fez barulho por entre os arbustos, secos, e os dois olharam para o lado. Notaram que uma sombra havia surgido, e ela portava um arco e algumas flechas. As flechas possuiam pontas de fogo, que brilhavam muito através da extrema escuridão.
- Cuidado!, dissera o corvo.
- Cuidado com o que? Com as fechas? Eu disse que estou morta.
Nisso, a sombra atirou uma fecha no peito dela. Ela caíra no chão, com um sorriso esquisito nos lábios e olhos fixos na sombra.
A sombra sumira.
Com um ar muito triste, o corvo disse:
- Eu falei que voc~e iria morrer!
- Eu já estou morta. Qual a diferença de morrer mais uma vez?
- Eu não gosto de ver você morrer! Eu nunca sei se esta será a morte definitiva!
- Não se preocupe. Morrer estando morta não é tão ruim, apenas dói um pouco devido à flecha em meu peito.
Após dizer isso, seus olhos começaram a se fechar e sua respiração começou a ficar cada vez mais rara.
- Não sei o que dizer! Toda vez que você caminha por esta floresta de árvores mortas, você morre.
- Não se preocupe, corvo. Saiba apenas que...
Neste momento seus olhos se fecharam.
- Saiba o que?!!!, dissera o corvo.
O corpo dela foi sumindo aos poucos. O corvo nada pôde fazer, a não ser olhar. Olhar com o mesmo olhar dela. Ele não conseguia arrancar de sua mente a seguinte indagação: "Como ela pôde morrer já estando morta?". Mas ao terminar este pensamento, ele saiu voando.
Saiu voando para pousar na árvore onde sempre esteve.