quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Feche a porta e apague a luz


    Aquilo começava a se tornar uma idéia sedutora.
    Agora ela tinha os olhos fixos naquele objeto à sua frente e pensava: "Não deve ser tão ruim...".
     Alguém chegou em sua casa, entrou e abriu a porta do quarto onde ela estava. Ela olhou para trás e se deparou com um desconhecido encostado junto à porta.
     - A TV está ligada; dissera ele.
     Ela virou seu olhar para trás, com seu olhar vazio, e disse que tanto fazia.
     - E a luz está acesa; completou o completo desconhecido.
     Ainda olhando para ele, ela deu um sorriso, também vazio, e voltou a observar o objeto.
     A idéia era cada vez mais tentadora e não contente em apenas o observar o objeto, pegou-o em suas mãos. Aquilo estava gelado e agora a idéia era quase irresistível. O estranho, ainda parado junto à porta, perguntou:
     - Vai mesmo fazer isso?
     - Não sei, você acha que eu deveria?
     - Você já está morta mesmo.
     - Como você percebeu?
     - Dá para ver em seus olhos... Qualquer um perceberia.
     - Eu cansei de morrer todos os dias, por isso a idéia soa tão tentadora.
     - Eu sei, venho aqui todos os dias.
     - Vem?
     - Venho aqui todos os dias nos quais você morre, para desligar a tv. Você sempre esquece ligada... A propósito, ela está ligada agora. Vou lá desligá-la.
     Nisso, ele saiu e fechou a porta, branca, do quarto cinza. Ainda segurando o objeto em suas mãos, ela resolveu render-se à idéia. Colocou aquele cano frio daquela arma fria, dentro de sua boca, sentiu aquele gosto esquisito. Pensou  no que pensava basicamente todos os dias, pensou em tudo que podia e apertou o gatilho. O barulho ecoou por toda a extensão de sua casa. A porta, antes branca, agora estava vermelha.
     O estranho, antes que pudesse desligar a tv, ouviu o barulho e foi vagarosamente até o quarto. Com uma rosa branca nas mãos. Ao chegar, abriu a porta e olhou para o chão. Viu alguém, uma poça vermelha e uma arma. Jogou a rosa no poça e aquela, antes branca, tornou-se vermelha. Ele pegou a arma e colocou em cima de uma mesinha redonda feita de madeira. Deixou o quarto, deixando a porta aberta, desligou a tv e apagou a luz. Saiu pela mesma porta que entrou.
     Ao chegar do lado de fora, sentiu o vento gelado no rosto e saiu andando rumo ao nada. Com o som do tiro ecoando em sua mente. Ele parou de repente, olhou para cima e disse: "Nunca mais ela precisará morrer novamente.". Após isso seguiu seu caminho.
     Como uma alma vazia.






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