sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O bar do Fim

     Já estava de madrugada, e ela ainda estava sentada na mesa do bar. Era um lugar de madeira, mesas redondas, um piano, escada de madeira podre, bebidas na parede, homens de chapéu com olhos vazios. O cheiro de madeira velha pairava no ar, misturado ao cheiro da fumaça dos cigarros que os homens de chapéu haviam fumado a noite toda, misturado com o cheiro de bebida. Atrás do balcão havia um homem de chapéu, flanela encardida nas mãos, bigode.
     Embora ninguém ousasse fazer um único brinde sequer naquele lugar maldito, todos naquele bar bebiam para brindar o nada, para brindar o fim! 
     Ainda havia luz do dia quando ela chegou ali, chegou e já pediu uma bebida; os homens de chapéu a olhavam, em suas mentes perguntavam-se: "Que diabos ela faz aqui? Será que não sabe que aqui é o bar do fim? Quem sai por aquela porta nunca mais retorna". O cara atrás do balcão, após algumas horas perguntou a ela o que ela fazia ali, perguntou se ela sabia onde estava, se ela sabia onde havia entrado. Ela respondeu com um aceno de cabeça, como se dissesse que sabia onde estava. O homem da flanela encardida não fez mais perguntas, apenas serviu bebida.
     Todos no bar a observavam, não entendiam o porquê dela estar ali, exceto o homem atrás do balcão. Após algum tempo, foi o único a olhar nos olhos dela, foi o único a ler seus pensamentos perturbados. 
     Ela estava sentada numa das mesas redondas, perto do piano, com a cabeça baixa olhar vazio. Já estava tarde, o homem da flanela já havia acompanhado todos os homens de chapéu até a porta de saída, até a porta do fim... Faltava apenas ela. Parecia que ela não queria ir. Parecia... O homem queria fechar as portas do bar do fim, mas para isso era preciso que ela saísse.
     - Você não vai sair?
     - Tenho mesmo?
     - Agora tem. Você bebeu, brindou o nada e o fim e agora é hora de sair.
     - Vai doer? 
    - Não sei. O que sei é que se você sair, isso acaba. Isso que está na sua cabeça, seus pensamentos, sua agonia, tudo isso acaba.
    - Pode me acompanhar? Quero que você seja a última coisa que verei. A última coisa antes de passar pela porta.
    - Tudo bem. Vamos...
     O Homem de chapéu pegou sua flanela encardida e a levou pelas mãos até a porta. Ela olhou para o rosto do homem, deu um sorriso de alívio e passou pela porta do bar do fim. Ele virou as costas, fechou o bar, pois já era tarde, e foi dormir. Sabia que nenhum daqueles clientes voltariam, pois quem sair por aquela porta chegará ao fim.
     Chegará ao alívio do fim.


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