sexta-feira, 1 de julho de 2011

Matei um homem hoje

     Matei um homem hoje.
     Não que ele tivesse feito algo para mim, eu simplesmente o matei.
     Era noite e resolvi andar na rua, para ver se elas paravam de falar em minha mente. Estava frio e ventando, meus ossos estavam congelando. As árvores balançavam, enxerguei ao longo da rua de asfalto um homem vindo em minha direção, mas não senti medo nem tampouco vontade de sair correndo. Ele tinha estatura média, óculos, usava chapéu e um sobretudo preto. Notei que estávamos nos aproximando, indo ao encontro um do outro. Embaixo de uma árvore seca, nos encontramos.
     - Moça por que anda sozinha na rua a estas horas?
     - Pelo mesmo motivo que você. Senti que minha cabeça iria explodir e decidi andar no frio.
     - Para sentir-se viva?
     - Também. Para me sentir viva, para me sentir morta. Queria apenas sentir alguma coisa. Fazer elas calarem a maldita boca!
     - Elas também não param de falar em minha mente. Enfiaria uma bala no meio dos meus miolos só para elas calarem a maldita boca!
Senti vontade de matá-lo. Senti vontade de vê-lo agonizar, ver seus olhos saltarem pela sua cara, ver o sangue escorrer pela sua boca, ver seu desespero.
     - E por que não os estoura? Já pensei em fazer isso inúmeras vezes, não sei porque nunca o fiz.
     - Falta de coragem. É por isso que você não estoura, é por isso que eu não enfio uma bala no meu crânio.
     Ao ouvir isso, peguei uma mangueira de borracha, daquelas que amarram em nosso braço quando nos tiram sangue; sempre levo uma dessas comigo. Mania talvez. Peguei a mangueira, passei em volta do seu pescoço e apertei. Apertei com força suficiente para que seu pescoço não quebrasse, mas para que apenas ficasse sem ar. Queria vê-lo agonizar.
     A agonia estava estampada e seus olhos; seu rosto começou a mudar de tonalidade, tentou puxar ar para respirar, bateu com as mãos no chão, puxou seus cabelos até quase arrancar-lhes da cabeça. Eu estava observando, estava atenta a cada detalhe! O modo como seu rosto mudava de cor, o modo como seus olhos saltavam, o modo como arranhava sua própria pele deixando sangue embaixo das unhas! Era como se eu pudesse sentir aquela agonia misturada com um toque de alívio.
     Morreu. Parou de se debater, estava mole e esticado no chão. Peguei delicadamente seu corpo e pendurei em uma árvore que estava ali. Continuei seguindo por aquela rua fria até que encostei-me em outra árvore seca e fiquei observando tudo.
     Matei um homem hoje.
     Hoje eu me matei.


Um comentário:

  1. Que conveniente levar uma mangueira de silicone sempre contigo e matar uma pessoa com ela. Pufff, fala sério né, please!

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